CARDIOLOGIA E CICLISMO

quinta-feira, 24 de setembro de 2009 |

A cardiologia do esporte estuda as adaptações fisiológicas cardiocirculatórias induzidas pelas atividades físico-esportivas, as doenças cardíacas e suas relações com estas atividades e os riscos e benefícios do esporte. As adaptações fisiológicas cardiocirculatórias no esporte, assim como os riscos e os benefícios à saúde (como a prevenção e a reabilitação de algumas importantes doenças), dependem do tipo e da intensidade das atividades físicas desenvolvidas. Neste artigo, nós nos deteremos a relatar o conhecimento cardiológico atual relacionado apenas a ciclistas que se submetem a treinamentos e competem como profissionais de elite.


Coração de Atleta e Ciclismo
O ciclismo profissional classifica-se, devido ao grande esforço físico necessário para conseguir bons desempenhos, entre as disciplinas esportivas que têm maior demanda cardiocirculatória, e conseqüentemente induz a importantes adaptações cardíacas nos atletas de elite. E em atletas deste grupo que muitas vezes se impõem o diagnóstico diferencial entre o coração de atleta, fisiológico, e o coração doente. Pelliccia, num estudo ecocardiográfico que reuniu 1.309 atletas de elite, observou em 45% deles um aumento no tamanho do coração, mas em apenas 14% o aumento era considerável. Deste estudo, destacaram-se três fatores determinantes do coração: prática de esportes de endurance (principalmente o ciclismo), sexo masculino e predisposição genética. Os ciclistas, maratonistas, remadores e esquiadores de fundo apresentaram maior proporção de corações com aumento de tamanho do que atletas de outras modalidades esportivas. O mecanismo causal é o aumento do débito cardíaco (a quantidade de sangue ejetada pelo coração por minuto) e da pressão arterial, mesmo que em limites fisiológicos. O débito cardíaco, que em repouso é de 5 a 8 litros por minuto, no esforço prolongado dos esportes de endurance, pode superar os 30 litros por minuto. O sexo masculino tem grande importância na adaptação cardíaca aos esportes. As atletas, quando comparadas com atletas homens praticantes das mesmas modalidades esportivas e na mesma faixa etária, têm menores dimensões cardíacas. Estas diferenças podem ser devidas, pelo menos em parte, à constituição, mas também à óbvia menor quantidade de hormônios androgênicos. Desta forma, é muito mais raro o "coração de atleta" em mulheres, e também é muito mais raro o dilema de diagnóstico diferencial com doenças cardíacas.

Exame médico regular e de pré-participação em ciclistas
Devido a estes fatos, o ciclismo é um dos esportes que apresentam maior risco de síncopes e até de morte súbita, se houver substrato patológico. A finalidade dos exames médicos, regulares e de pré-participação (screening em inglês), é a de identificar patologias que possam provocar sintomas, morte súbita ou facilitar a progressão de doenças. O protocolo do exame cardiológico pode ser dividido em vários níveis de complexidade. O nível básico está indicado para todos os atletas (profissionais ou não) e consta de exame clínico, bioquímica de sangue e urina, eletrocardiograma, teste ergométrico e ecodopplercardiograma. Se for necessário, a avaliação cardiológica é complementada por outros exames, como a ressonância magnética do coração, o cateterismo cardíaco e o estudo eletrofisiológico invasivo. Devido, porém, à complexidade de muitas das doenças cardíacas, uma pequena porcentagem de situações médicas ainda são dúbias. Nestes casos, pode ser útil observar um período de destreinamento de três a seis meses, quando, caracteristicamente, muitas das alterações funcionais podem regredir, mesmo que de forma incompleta.

Dr. Giuseppe S. Dioguardi é cardiologista da seção de cardiologia do exercício e esporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e médico do Sport Check-Up do Hospital do Coração.

Fonte: Revista: VO2

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