Amigos e Amigas que acompanham o MTB Noticias, tive o prazer de receber do atleta Marco Nunes da equipe Tche Biker um relato sobre o Mundial Master de Cross Country que aconteceu no ultimo fim de semana no Balneário de Camburiu -SC.
Marco Nunes descreve tudo que viu nos dias que esteve prestigiando o evento, confira:
Aqui vai um relato deste parceirinho de pedais que vos fala. Uma visão insuspeita do Mundial Master da UCI.
Um abraço a todos, e boa leitura.
Tinker Juarez
Difícil descrever uma lenda. Quarenta e sete anos de puro montain biker, destilado e concentrado num homem de pouco mais de 1,7 metros e 50 quilos. Um corpo pequeno, aparentemente frágil, mas capaz de conter a agilidade e destreza que só o tempo pode dar. Esse é Tinker Juarez. A lenda que tive o prazer de acompanhar nestes 6 dias de Mundial.
Todos os outros competidores, independente da categoria, e idade, apenas faziam o percursos, dando show de técnica e destreza, desafiando o limite de suas bikes. Tinker era mais que isso. A pilotagem desta lenda era como o bailar de um bisturi de estrema precisão. Sem erros, ele serpenteava as trilhas sinuosas do Parque das Laranjeiras. A bike meio que flutuava por entre as irregularidades do terreno, encontrando o solo apenas onde seu piloto permitia. Um banho de técnica e resistência física. Estas palavras são respaldadas pelo melhor tempo de uma volta, em toda a competição, 00:17:48. O mais próximo disso que se chegou, foi o italiano, vencedor da Master 30 – 34 anos, com 00:17:50. Dois longos segundos que separam uma lenda do resto dos mortais.
A pista
Esqueça tudo de você já viu sobre pistas de XCO. Esqueça aquela prova onde sua esposa – ou namorada – pode lhe acompanhar no trajeto, lhe dizendo: Vai amor, tu vai conseguir!!!. Esqueça aquelas pistas onde você tem aqueles 30 segundos para respirar. Por fim, abandone toda a esperança de chegar inteiro ao final da prova. Estamos falando de uma prova da UCI.
O que melhor descreve o que vi, se assemelha a uma receita de bolo. Coloque numa área de 2 quilômetros quadrados uma pista com 60% de subidas, com inclinações de 28% - sim, isso é uma parede - , mais 30% de trechos de downhill e, por fim, 10% de sinuosidades características de uma pista técnica de XCO. Esta é uma pista de UCI. Até mesmo Mr. Tinker Juarez se impressionou com ela. O que sobra para nós?
As subidas longas, tanto nos percursos abertos, como no single tracks, levavam a exaustão os competidores. Não eram incomum observar pilotos caindo por pura falta de oxigenação e, consequentemente, retardo nos reflexos. Nos trechos abertos, constituídos por subidas em asfalto, o desafio era se recompor do esforço nos singles. Mas nem todos conseguiam, pois, ali, no seu vácuo, estava aquele que podia lhe roubar a colocação. Ou sejam, rodar no limite era uma obrigação.
O espirito do MTB
Nestes seis dias vi muita coisa naquela lugar. Mas algumas marcaram. Vi um atleta abraças uma pedra maior que uma máquina de lavar roupas, ser arremessado na minha direção, vindo a repousar suas costas numa quina de outra pedra. Pensei: “Fim de prova, meu camarada”. Ajudei-o a erguer-se e carreguei sua Scott por 20 metros, a meio caminho do fiscal da prova mais próximo, na trilha logo abaixo. Não preciso dizer que o joelho dele lembrava tudo, menos um joelho. Minutos mais tarde, caminhando pela trilha, ainda assistindo a mesma prova , passa por mim aquele atleta, que eu acreditava estar dentro da ambulância, gritando de dor. Ficou um pensamento na minha mente: “O que move aquele cara?”. A resposta eu vi depois, no olhar de cada um que recebia a medalha por completar a prova. Não existia mais cansaço; não existia mais dor. Permanecia apenas uma satisfação e felicidade imensurável, as vezes acompanhadas de lagrimas.
O incentivo para os atletas vinhas de todos os lados, fluía em varias línguas e não tomava conhecimento de birras politicas e econômicas. Era uma Babel ciclística, onde todos comungavam, num esforço conjunto para que todos os atletas tivessem o que fosse necessário para finalizar a prova. Pensei: “Morrerei e não verei tudo.”.
A Esquadra Azurra.
O Show a parte. Esqueléticos, exacerbados e eficazes. Assim descrevo os atletas que representavam a Itália, grande vencedora do Mundial. Não digo que os demais atletas não estavam ali para vencer, mas depois do que vi, entendi porque o Brasil não figura entre os tops do mundo neste esporte tão apaixonante.
1 comentários:
Muito legal sua matéria, parabéns!
Luís Mosh - Sumaré / SP
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